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Charles Perrault (1628-1703)




Perrault sempre figurou como o primeiro e mais famoso narrador de contos de fadas, mas foi apenas um escritor entre um número grande de escritoras em sua época.
Eleito para a Academia Francesa de Letras, no ano de 1671, como poeta clássico, tornou-se mundialmente conhecido como autor de uma literatura para crianças -- o gênero "literatura infantil" era inexistente e ele mesmo não escreveu seus contos para elas -- ainda mais: o conto de origem popular não contava com prestígio algum; escrevê-los era tomar atitude contrária à estética da França Iluminista.
Viveu a "Querela entre Antigos e Modernos". De um lado, defendia-se o latim e a autoridade da cultura clássica greco-romana que predominava desde o Renascimento como modelo de arte; os anciéns da Academia tomavam a mitologia pagã com predileção a seus temas...
No cabo-de-guerra intelectual, os opositores atestavam a superioridade da língua francêsa para a produção literária e exigiam o maravilhoso cristão como presença nas artes. Essas duas atitudes, no campo de estudo e fruição da literatura para crianças, nos dias de hoje, ainda reverbera ao elegermos La Fontaine ou Perrault como um de nossos preferidos.

Em sua época, Perrault era um freqüentador dos "Salões" das "preciosas", onde uma das leituras prediletas era a dos caudalosos "romances preciosos", cuja matéria exuberante, fantasista e sentimental estava mais perto da "desordem" do pensamento popular, do que da "ordem" clássica. (Nelly Novaes Coelho, 1985: 65-66)

E Mlle. L'Héritier (sua sobrinha) havia conseguido atrair Perrault, segundo a pesquisadora, "para a causa feminina, na defesa dos direitos intelectuais das mulheres, tão legítimos quanto os dos homens".
Seja lá como foi, Charles Perrault deixou versões para três contes de vieille:
1691 - Grisélidis (A Paciência de Grisélidis ou A Marquesa de Salusses)
1694 - Os Desejos Ridículos e A Princesa Pele de Asno.

Para ele:

... Houve pessoas que perceberam que essas bagatelas não são simples bagatelas, mas que guardam uma moral útil e que a narração que as conduz não foi escolhida senão para fazer entrar (tal moral) de uma maneira mais agradável no espírito, e de uma maneira que instrui e diverte ao mesmo tempo. Isso me basta para não temer o ser acusado de me divertir com coisas frívolas. Mas como há pessoas que não se deixam tocar senão pela autoridade dos antigos... (Perrault, 1697 - Contes du temps passé, avec les moralités - Contos de Outros Tempos e suas morais).

No entanto, ao publicar os oito contos que restavam de sua pesquisa em prosa (considerada língua vulgar), fez registrar o nome do autor P. d'Armancour (Pierre Perrault d'Armancour) - seu filho - o que até gerou certames e cizânias entre estudiosos a respeito da verdadeira autoria... muitos concluíram que tudo não passara de um divertimento do pai do menino ao fazer sua homenagem à neta de Luís XIV a quem a obra é dedicada. Equívocos à parte, merece lembrar que, para o historiador Walkenaer, Pierre contava três anos de idade -- mas, de fato, em 1697, ele era um rapaz de dezenove anos... a possibilidade mais aceita é: o culto escritor e membro da Academia Francesa não queria macular sua "imagem", aparecendo como autor dessa literatura menor... Talvez fosse isso, apenas. Porém, seja qual for a Verdade (hoje praticamente impossível de ser provada), essa questão de autoria é, afinal, secundária, para o problema que aqui perseguimos: a formação e a evolução da literatura para crianças. Secundária, principalmente, porque os CONTOS de Perrault há muito que adquiriram autonomia: correm mundo sem que, na grande maioria dos casos (inclusive edições que não mencionam autor), seu leitor ou ouvinte saiba quem os escreveu. É o destino de todas as grandes obras... dificilmente se vulgarizam, sem se desprenderem da tutela de quem as realizou (Novaes, 1985: 68).

Em 1697, o título da obra era expressamente CONTOS DOS TEMPOS PASSADOS, COM MORALIDADES. O nome CONTES DE MA MÈRE L'OYE aparece somente ao fundo da imagem que serve como portado ao livro do escritor francês. Na gravura, uma velha tecendo frente à lareira com três crianças inclinadas sobre ela, em um aquecido ambiente doméstico. No entanto, Contos de Mamãe Gansa pareceu um título mais simpático e não demorou muito para assim ser conhecida esta coletânea.

Interessante lembrar que a expressão "contos de fadas" é um rótulo francês (e exportado para os demais países) utilizado até os dias de hoje para apontar os "contos maravilhosos" de modo genérico. Porém, em metade dos contos no livro de Perrault não possuem fadas... O que está presente, ao fim de todas narrativas, é a marca da moral iluminista, escrita em versos, apresentando seu caráter extremamente utilitário:

Tenham agudeza no espírito e agilidade nas mãos.
Sejam, em uma palavra, trabalhadores e industriosos
e vereis retornar a vós a fortuna
que virará as costas àqueles que a tiveram de nascença
e que não sabendo fazer nada para a conserva quando a tem,
saberão muito menos para a conquistar, uma vez perdida.

Os próximos cem anos não produziram nada de muito significativo exceto a coletânea dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm: Contos de Fadas para Crianças e Adultos, publicada em alemão em 1812-15 e traduzida para o inglês em 1823. Os contos desse livro, muitos de escritores anteriores como Perrault, tinham o propósito de ensinar valores morais e acabaram por se tornar os mais populares em todo o mundo.

Outros Contos de Perrault:

- O Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau

- Riquê de Topete

- O Pequeno Polegar

- O Barba Azul

- As Fadas

- A Borralheira

- A Bela Adormecida

- A Rainha dos Pavões

- Os Presentes da Fada

- Zé Chumaço

- O Príncipe e a Gata

- O Gato de Botas

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